sábado, 11 de agosto de 2012

O verão e as lições de vida

Fazia muito tempo que eu não escrevia. Ando sem inspiração e sem tempo. A vida tem passado tão rapidamente que tenho pouco tempo pra pensar nas coisas e vê-las como um tópico para o que quer que seja. Hoje, estou deixando Middlebury, no estado de Vermont, onde passei 7 semanas ensinando português e cultura brasileira. Foi uma experiência única de trabalho e também de vida. Middlebury é um Big Brother das línguas: os alunos vão para essa cidadezinha no meio do nada, num estado lindíssimo, cheio de montanhas, esquilos, tâmias (existe um esquilo que não é esquilo e que se chama tâmia) e muito verde. Lá, eles fazem um juramento de ficar 7 semanas sem falar outra língua além da língua que querem aprender. Cada grupo de línguas tem um 'botton' com as iniciais da língua e, teoricamente, só devem falar com quem tem o mesmo botton. O mais interessante nisso tudo é que as pessoas levam muito a sério esse juramento e o inglês acaba sendo uma língua proibida nessa babilônia de línguas a serem aprendidas. Todos os alunos, professores e estagiários moram nos mesmos dormitórios (isso inclui dividir banheiros, cozinhas, salas), comem nos mesmos refeitórios, frequentam os mesmos espaços de lazer, ou seja, são 24 horas de convivência 7 dias por semanas. Tudo isso num ritmo de trabalho e estudo muito intenso. Essa convivência toda permite um grande aprendizado não só da língua mas também das relações humanas. No dia a dia da vida normal, nós evitamos as pessoas que destoam de nossos padrões, evitamos as pessoas que têm personalidades com as quais pensamos que não podemos lidar. No entanto, quando a convivência é forçada, nós aprendemos que podemos conviver com todo mundo, que podemos encontrar algo de bom em cada pessoa. Por mais clichê que isso possa parecer, é assim mesmo que acontece. Poucas são as opções quando temos só uma opção, não é mesmo? E, em Middlebury, aprendemos rapidamente que temos que nos adaptar, temos que aceitar, temos que compreender porque não temos outra opção além de conviver com aquelas pessoas todas. Acho que essa experiência foi uma das experiências mais marcantes da minha vida. Aprendi a ver as pessoas de outra maneira, aprendi muito sobre mim e sobre a maneira como eu percebo e reajo às atitudes das pessoas ao meu redor. Conheci tantas pessoas interessantes, tantas pessoas diferentes. Fiz bons amigos, desses que a gente não faz todo dia. Estou passando por uma fase de vida diferente neste ano, acho que estou passando pela fase do sim. Consegui um emprego em Stanford (lembram-se daquele post da fase do não? pois é, as coisas mudaram, eu fiz o concurso de novo e fui aprovada na mesma universidade), fui pedida em casamento (eu sei gente, eu já sou casada, mas vou casar de verdade, na igreja, de véu, grinalda e etc.). Este verão em Middlebury também faz parte dessa fase do sim. Foi uma grande oportunidade profissional e, como diziam os alunos, foram muitas lições de vida...

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A ignorância

Tem algumas coisas nesta vida que eu simplesmente ignoro. Não julgo, não sei se são boas ou não, só sei que, pra mim, não são úteis. Eu não procuro conhecer ou experimentar, eu ignoro completamente. Até aí, tudo bem, cada um se interessa pelo que quiser, não é mesmo? O meu problema é que as coisas ignoradas deram pra se vingar de mim.
Eu nunca achei, por exemplo, que precisava de 50 aplicativos no meu celular. Acho inútil, ignoro a funcionalidade e não quero perder um minuto da minha pequena existência tentando entender pra que é que servem, se é que servem pra alguma coisa. Outro dia, fui fazer uma entrevista numa empresa bacaninha e o entrevistador me perguntou: “- Quantos aplicativos você tem?” Eu nem tentei mentir porque eu nem saberia o que dizer. Falei a verdade: -“Tenho 3: um tradutor, um conversor de medidas e um jogo da velha.” Os aplicativos se vingaram, e eu não consegui o emprego. Teria sido útil se eu, pelo menos, soubesse mentir sobre o assunto.
Outra coisa que eu sempre achei inútil são esses joguinhos do Facebook. Fiquei muito feliz no dia em que consegui bloquear todos os convites para colheita feliz. Perguntem! Lá vou eu, bonitinha, fazer outra entrevista. Conversa vai, conversa vem, e a pergunta menos esperada do mundo aparece: você gosta de jogar nas redes sociais? Isso é fundamental para este emprego. Pode uma coisa dessas? Cheguei em casa e desbloqueei todos os jogos e convites do Facebook, mas já era tarde, eles já tinham se vingado e eu não consegui o emprego.
É gente, como dizia um velho amigo meu, tudo é conhecimento, tudo é uma forma de cultura. Se você ignora alguma coisa, qualquer coisa que seja, você é ignorante.