sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O interior é o mesmo



Eu passei as festas de fim de ano em Teloche. Uma vilinha a 200km de Paris com 3.040 habitantes. Tudo lá é muito bonitinho, a vilinha tem um centrinho medieval, com uma igreja, duas padarias, um açougue, uma farmácia, um correio e o mercadinho do Didier e da Michele. A D. Monique, minha sogra, vai de bicicleta comprar pão e croissant toda manhã. Come-se bem, bebe-se bem, como em todo bom interior. Tem uma coisa que eu adoro mais que tudo: o aperô. O aperô é assim: as pessoas te convidam pra ir a casa delas tomar um aperitivo antes do almoço ou do jantar, mas não te convidam pra almoçar ou jantar. Pode parecer estranho, mas é algo muito simpático e, como dá muito menos trabalho que convidar para comer, permite que as pessoas se vejam com mais freqüência, que bebam algo juntos, comam uns beliscos e depois cada um vai comer na sua casa. Eu adoro!
Interessante mesmo é ver que interior é o mesmo em qualquer lugar! Mesmo que eu não falasse francês, eu entenderia tudo. As pessoas, os comentários, as reações diante das coisas, tudo muito parecido com a minha realidade interiorana de São Paulo. Eu vejo as pessoas da minha família e meus conhecidos nas pessoas que eu conheço lá. Nas histórias sobre a vida dos outros, do burguês da vila, do pobre que tem uma filha metida, do que bebe mais do que deve, do filho que não sai da barra da saia da mãe, dos divorciados, dos juntados, de tudo um pouco. As pessoas sofrem pelos mortos em acidentes que eles nem conhecem e contam e recontam a mesma notícia ouvida 10 mil vezes no jornal.
É! O interior é o mesmo. As pessoas são gentis, elas gostam de nos fazer comer, quanto mais comemos mais felizes elas ficam. Se elogiamos a comida, ganhamos todo mundo. Eles me chamam "la princese". Eu sou muito dada, vocês sabem, e como tudo que me dão. Na verdade, fico sentadinha esperando que as pessoas me sirvam :), princesa, não? eu disse isso uma vez, eles acharam graça, e eu virei a princesa do pedaço. Porque, em todo bom interior, as pessoas gostam mesmo é de rir e de tirar sarro de tudo.
As pessoas sabem meu nome, eu saio dando 4 beijinhos em todo mundo (é, lá eles dão 4 beijinhos), elas me perguntam sobre a minha vida. Eu conheço as pessoas pelo nome, sei da vida delas... Ah! la vie a la campagne.
No meu interior, as pessoas dão 3 beijinhos (pra quem quer casar) ou 2 beijinhos (pra quem já casou ou não faz questão de casar) e elas nos enfiam café até não querer mais. Em Teloche, as pessoas dão 4 beijinhos e nos enfiam vinho, licores, kirs até não querer mais. Enfim, a diferença, na verdade, está no café, no álcool e na quantidade de beijos...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Questões de vocabulário e de estereótipos

Eu e Cyril conversando: "-todo mundo me pergunta se você é gay, porque, para os brasileiros, todo francês é gay". Ele:"- ah, não faz mal, todo mundo me pergunta se você é mulher mesmo, porque, para os franceses, todo brasileiro é travesti". Como vocês podem ver, empatamos no quesito estereótipos.
No dia seguinte a essa discussão, estava eu no caixa do mercado e o atendente começa a puxar papo. Na hora de pagar, ainda no papo, ele vira pra mim e diz: " from Brazil! Nice! Do you have a /peni/? Nossa, eu fiquei roxa, olhei pro cara com olhar vazio, olhei para as minhas regiões baixas pra ver se tinha algum volume que pudesse levá-lo a pensar que eu era um travesti e respondi indignada: NÃO. O moço, também roxo, percebendo o mal entendido:"- no no, a penny" (com ênfase no i sem s), mostrando uma moeda de 1 centavo. Eu tinha a moeda, paguei a compra e fui embora sem terminar o papo.
No caminho pra casa, cheguei a uma conclusão: eu sou uma pessoa sem vocabulário e traumatizada com estereótipos.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

You can never ever leave without leaving a piece of youth...para minha amiga Ana Paula

O fim do ano está aí. Todo mundo tentando se organizar entre confraternizações, compras, arrumações e mudanças.
E por falar em mudanças, esse final de semana é o último final de semana da Paula em São Paulo. A Paula, pra quem não conhece, é minha amiga/irmã. Moramos juntas por 10 anos, isso mesmo, 10 anos. Somos duas pessoas de temperamentos completamente diferentes. Somos amigas, no sentido único que essa palavra pode ter: aquele em quem se confia, em quem se apoia, com quem compartilha.
A mudança da Paula põe fim a uma fase de nossa vida. Uma fase e tanto: faculdade, namoros, fins de namoros, mestrados, trabalhos, emprego (emprego é diferente de trabalho, sim), doutorado, balada, barzinhos, viagens, primeiro carro, amigos, festas, outros namoros... ufa, que fase. Sinto-me tão grata por tudo isso que passou, mas sinto uma vontade de chorar sem parar quando penso que agora acabou. Vocês devem se perguntar, mas essa fase já não tinha acabado quando você se mudou? Não tinha porque eu sempre podia voltar pro apartamento da Caxingui, encontrar meus amigos, o apartamento em que morei por 10 anos, a D. Dilce... entenderam?
Agora, vamos começar outra fase de nossa vida, a tal da fase adulta. Uma fase bem menos movimentada, mas com muitas coisas boas também. A Carol (irmã da Paula e integrante da fase acima relatada) vai casar, até o Leandro tem uma namorada, ninguém acreditaria...
Pra fechar essa fase, vou contar uma historinha do ap 34 A:
Domingão, Paula, Carol e eu compramos ingressos para ir a uma Micareta. Bom gente, todo mundo tem seus dias menos gloriosos... Enfim, ligamos pro Túlio (também integrante dessa fase e morador do 53C) para perguntar como iríamos. Ele disse que ia com um amigo, o Danilo, e que podíamos ir todos juntos. Fomos. Chegando perto do local do evento estava um trânsito infernal... o Túlio, boa praça como sempre foi, desceu do carro e desapareceu com os novos amigos que fez. O Danilo começou a dizer que queria fazer xixi e desceu do carro. Eu peguei a direção. Só me lembro de ver a cabecinha do Danilo sumindo no trânsito. Chegamos a Micareta, estacionamos e nada de Túlio nem de Danilo aparecerem. Entramos na micareta, fizemos o que se faz em micaretas e nada. A micareta acabou, esperamos a última das 4 mil pessoas sair e nada. Pegamos o carro e fomos pra casa. Quase chegando em casa, começa a tocar um celular no carro. Atendi o celular que estava embaixo do banco, era o Danilo: "- Meu, cadê vocês? Me liga nesse número." e desliga. Tentamos ligar no número e adivinha: teclado bloqueado, digite sua senha de 4 dígitos... ai, ai... Não ligamos de volta, entramos, eu, Paula e Carol e fomos dormir. Às 3 da manhã o telefone toca, era o Danilo só pra dizer que ele estava bem e estava em Santos. Santos?? É, ele pegou um ônibus e foi pra Santos. Vai entender. No dia seguinte, ligamos pro Túlio e perguntamos o sobrenome do Danilo. O Túlio não sabia, tinha conhecido o cara um dia antes numa balada, mas sabia que ele morava em Moema. Útil, não? O dia passa e nada do Danilo ligar. Nesse meio tempo, tentando todos os números, conseguimos desbloquear o teclado. Só tinha um número salvo: "casa". Ligamos, atendeu a mãe dele, perguntamos por ele e ela respondeu que ele estava em São Paulo, no apartamento dele. Ela perguntou se queríamos deixar recado, dissemos que não, que ele tinha deixado uma coisinha com a gente, mas que estava tudo bem. Às 10 da noite aparece o Danilo pra buscar o carro, tranquilo, como se nada tivesse acontecido. Um mês depois eu comprei o carro dele, meu fiestinha sapinho!Eu já tinha feito o teste drive mesmo!!
É isso, minha gente,eu teria muitas muitas histórias pra contar, mas nem todas são permitidas :)!

Boa sorte nessa nova fase minha amiga! Pra você, para Carol, pra todo mundo!

A gente nunca pode partir sem deixar um pedacinho da gente.

http://www.youtube.com/watch?v=NOG3eus4ZSo

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Os problemas dos outros

Essa postagem é antiga, esqueci de postar de verdade... mas enfim, meu problema continua o mesmo, então resolvi postar.

Hoje eu fui ao banco com o Cyril pedir um cartão pra mim. No banco, a senhorinha gerente chinesa me perguntou se eu tinha um social security number. Eu expliquei que meu visto não me autorizava a ter um. Então, ela olhou pra mim e disse: “-Ah, então você não pode trabalhar?” Eu respondi seca que não. Ela me olhou com ar de pena e completou: “Ah, então, você precisa estudar, senão você vai ficar entediada, sabe?” Eu virei pra ela e disse: “Jura? Você acha mesmo? E o que mais você acha que eu devo fazer?” Ela insistiu - acho que minha entoação de ironia em inglês não está bem calibrada -: “AH, Hoje você pode ficar por aqui, “hang out”um pouco e depois almoçar com o Cyril.” Hum???? Eu te conheço?? É mole gente?
Mas é assim, todo mundo tem uma opinião pra dar, todo mundo tem uma solução bem simples e óbvia para coisas que elas nem sabem o que é.
Isso tem me incomodado muito, embora eu também o faça. Vocês já prestaram atenção em como a gente tem mania de simplificar o problema do outro? Cada um tem seus problemas, e eles têm suas proporções medidas subjetiva e individualmente. Mas é difícil aceitar, olhando de fora, tudo parece tão banal. Sempre que eu digo que é difícil morar em San Francisco e não trabalhar, vira alguém e me diz que eu reclamo de barriga cheia e que tem tanta gente no mundo que nem tem onde morar. É, pois é, deve ser triste pra eles, mas esse aí não é o meu problema. O meu problema é outro e só eu sei a dimensão que ele tem na minha vida.
Somente o dono do problema pode atribuir-lhe um valor porque a verdade é que a gente nunca sabe o quanto o sapato do outro está apertando.
E, além disso, cada um com seus problemas, né?!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Das cenas que não devíamos esquecer

Hoje eu recebi um e-mail sobre o blog de um amigo. Quando eu abri o post, descobri que ele estava em tratamento de saúde desde o ano passado. Seu blog é muito interessante. A sensibilidade com que ele descreve suas angústias e seus pensamentos é admirável. Uma pessoa super preocupada com as pessoas ao seu redor, em busca de auto-reconhecimento, de se auto-compreensão. Enfim, quem quiser dar uma olhadinha...
Quando li esse post, eu fiquei pensando em quando conheci o Renato, uns 8 ou 9 anos atrás. Esse exercício me trouxe uma lembrança engraçada e um pouquinho de tristeza por constatar que a gente esquece quase tudo.
Nessas alturas da vida, anos 2002 ou 2003, estava começando o Orkut. O Renato me contatou através do Orkut porque tínhamos o mesmo sobrenome. Conversa vai, conversa vem: "acho que somos primos". Como morávamos na mesma cidade combinamos de nos encontrar. Numa época em que não se falava em crimes virtuais, em pessoas que saíram para se encontrar com o amigo da internet e nunca mais voltaram, marcamos um encontro no Clube do Churrasco. Detalhe, o Clube do Churrasco ficava em frente a minha ex-casa. Por que negar informações a um estranho se você pode dar todas as que ele precisa?
Bom, lá fomos nós, eu e minha fiel companheira Ana Paula encontrar o Renato. Foi um encontro super legal, ele era um menino super divertido, branquelo, com seu cabelo Jackson Five e muito bonitinho, diga-se de passagem.
No final de semana que seguiu a esse encontro haveria uma festa privada open bar, organizada por um amigo do namorado de uma amiga que estava interessado em mim. O menino era "mauricinho" total, fazia FEA e, não tenho dúvidas, deve ter mil posts publicados no "Classe média sofre". Eu não tinha nenhum interesse nele, mas tinha muito interesse numa festa open bar! Dado isso, negociei a minha ida e a de mais duas pessoas, para que eu não ficasse deslocada, entendem? Liguei para o Renato que topou de primeira e disse que levaria um amigo. A festa era aquilo que prevíamos: muita bebida, muita gente chata reunida, todos super bem vestidos, o mais fino creme de la creme da FEA estava por lá. O dono da festa veio falar comigo, já meio altinho, eu sorri aliviada: pessoas bêbadas esquecem facilmente seus interesses, sabem? Eis que então chega o Renato com seu amigo. Seu? não, não, seus amigos, ele trouxe mais 3!!! Isso não seria nada, não fosse o fato de dois deles terem cabelos Jackson Five e um terceiro ter o cabelo cheio de "dreads". Nem chamavam atenção naquele ambiente padronizado... Não lembro se ficamos por ali ou se fomos beber em outro lugar. Só lembro que demos boas risadas.
Depois disso, acho que só vi o Renato mais uma vez e perdemos o contato. Hoje eu me lembrei dessa história, queria me lembrar de mais detalhes dessa e de tantas outras que vivi. Mas a vida é assim, a gente esquece para depois lembrar, às vezes a gente lembra tudo, às vezes a gente lembra só um pouquinho.

domingo, 21 de agosto de 2011

Que língua você fala bem?

Hoje eu fui assistir a uma palestra sobre bilinguismo aqui nos Estados Unidos. O IBEC, Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, vai oferecer cursos de português para crianças imigradas ou nascidas nos EUA que tenham o português como língua de herança. Um projeto muito interessante, muito bem organizado e, sobretudo, muito bonito. Nessa palestra havia muitos pais que afirmavam falar melhor inglês do que português porque viviam há 10, 15 anos nos EUA. A verdade é que todos eles, cada um com seu sotaque, com sua variante da língua portuguesa, falam português muito bem, mantém contato com a família e amigos no Brasil, com a comunidade brasileira aqui, etc. O que, então, os leva a pensar que não falam português tão bem quanto inglês?
O português da maioria daquelas pessoas na palestra é igual ao português falado pelos pais deles, pelas pessoas que eles conhecem que ficaram no Brasil. É difícil entender de onde vem o bloqueio dessas pessoas, por que elas acreditam que não sabem português o suficiente para falar com seus filhos. Que rejeição é essa com a língua materna? A maior parte dessas pessoas veio para os EUA adulto e tem orgulho de ser brasileiro. No entanto, rejeitam sua língua materna, uma língua que falam frequentemente. Eu não sou psicóloga, não estudei muito análise do discurso, mas imagino a tese interessantíssima que a análise do depoimento desses imigrados daria.
Quanto a mim, nem que eu fique 50 anos fora do Brasil, eu nunca falarei qualquer outra língua melhor que o português. A representação de tudo o que eu sou, de tudo que eu sinto passa pela língua portuguesa, pelo português caipira, sem concordância verbal ou nominal, com r retroflexo, com todas as palavras que eu preciso pra mostrar quem eu sou e o que eu penso.

"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa." Fernando Pessoa

quinta-feira, 28 de julho de 2011

De louco e muito louco, em San Francisco, todo mundo tem um pouco

Nunca nesses meus 30 anos de vida, eu vi tanta gente louca quanto aqui em San Francisco. Não falo de gente louquinha, meio fora da média. Não, não, eu estou falando de gente louca, louquíssima. Não sei se é um efeito tardio da era hippie, se é muito craque ou se simplesmente a vida moderna enlouquece qualquer um.
Eles estão em toda parte, falando sozinhos, xingando e andando de ônibus. Detalhe, eu também uso o transporte público. Que, diga-se de passagem, é digno de ser elogiado. Todos os ônibus se rebaixam até quase tocar o chão, assim, qualquer pessoa, com qualquer tipo de dificuldade de locomoção pode subir sem problemas. Os bancos são dobráveis, o que facilita o acesso para cadeirantes. Além disso, eles são pontuais e possuem um gancho na frente onde as pessoas podem colocar suas bicicletas. Vale dizer também que aqui todas as guias, todinhas, tem acesso rebaixado.
Ou seja, o único problema dos ônibus é a quantidade de loucos que eles transportam. Um doido que fica gritando a cada criança que entra que elas deveriam ser proibidas de entrar no transporte público, que elas só servem pra churrasco. Uma outra louca, a louca do ônibus 5, entra pela porta da frente cheia de sacolas e vai abrindo espaço xingando todo mundo até chegar no fundo do ônibus. Tudo isso pra descer no próximo ponto. É preciso fazer um comentário: aqui os ônibus param em todos os quarteirões, ninguém pode andar dois blocos... ou seja, por que raios essa criatura faz isso? Pior, eu já a vi 3 vezes fazendo a mesma coisa e gritando sempre: “-não me chame de vaca, eu estou muito puta hoje!” (Tradução educada da minha parte).
Hoje, eu decidi andar pra evitar tanta loucura. Acontece que estou eu tranquila, andando, quando uma senhora de uns 60 anos numa cadeira de rodas começa a falar comigo. Eu comecei a responder, ela me pareceu tão simpática e eu adoro conversar com pessoas mais velhas. Ela me perguntou se eu queria conhecer uma lugar bonito ali mesmo naquela rua. Eu disse que sim e segui a senhora na sua cadeira automática, super rápida. Ela me levou a um jardim, bem bonitinho, com uma fonte, um jardim tipo japonês (a fonte tinha proporções americanas). Fiquei ali um pouco com ela, depois ela me perguntou se eu poderia acompanhá-la a uma loja, eu fui. Nesse tempo que ficamos ali, ela me contou de seu acidente em 1986 e me disse que depois disso ela tinha ficado impedida de andar e que nunca mais pôde trabalhar. Quando chegamos na loja, ela me pediu pra olhar sua cadeira enquanto ela fosse ao banheiro. Eu pensei que não tinha entendido o que ela tinha dito. Mesmo assim, eu disse sim. Ela se levantou da cadeira, tirou o casaco com desenvoltura e caminhou até o banheiro. Nem mancar ela mancou, nem corcundinha ela ficou. Ela levantou e andou...
Acho que eu vou acabar ficando louca...

terça-feira, 19 de julho de 2011

Fiz 30!!! E agora?

E agora? Agora nada!! Mas adoro aniversário!!Com todas as mensagens, telefonemas, jantar romântico com o namorado e tudo mais!

Estou feliz com meus trinta anos e com muitas coisas na minha vida. Não vou dizer que se pudesse voltar no tempo, com a consciência que tenho hoje, eu faria tudo igual. Eu não faria, não. Dizer que faria tudo igual é confortante porque a gente não pode voltar no tempo e o que está feito, está feito. Honestamente, eu não posso reclamar do que "está feito" para mim e não quero voltar no tempo. Eu gosto de mudar de fase, não queria ter 20 anos de novo, eu já tive uma vez, já está bom!

A gente aprende algumas coisas em 30 anos, no meu caso, eu aprendi que:

1- fazer e manter amigos de verdade torna-se mais difícil a cada ano que passa (isso está relacionado à perda de paciência e escassez de tempo, também causados pela idade);

2- o corpo da gente não funciona do mesmo jeito (quero dizer, corpos sedentários, como o meu, tendem a apresentar problemas relacionados à coluna e à flacidez);

3 - tudo bem não gostar de alguém (nem todo mundo é "gostável" pra todo mundo);

4- tudo bem gostar de algumas pessoas (tem gente que nem a gente sabe explicar por que é que a gente gosta);

5- nem todas as opiniões devem ser dadas (às vezes a gente não tem uma opinião ali, prontinha, então, melhor não dizer nada);

6- evitar a fadiga é essencial (em todos os sentidos: tem respostas que a gente não precisa dar, tem coisas que a gente não precisa ouvir, tem coisas que a gente não precisa experimentar e tem coisas que a gente não consegue e não quer fazer e tudo bem, essa história de se desafiar a todo momento é coisa de livro de autoajuda);

7- acumular experiências pode ser enriquecedor, mas pode ser traumatizante também, tudo depende;

8- Enfim, muitos e muitos clichês que todo mundo já deve ter dito, mas, enfim, é a primeira vez que eu faço 30, então, tenho direito de dizer!!

O tal do Balzac, num dos livros mais chatos que eu já li, diz que a mulher de 30 tem atrativos irresistíveis. Vai lá saber o que seriam esses raios de atrativos, mas vamos esperar que sejam irresistíveis.

Até onde a beirada dos 30 vai?!!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Na fase do NÃO

Eu estou passando pela fase do não. Sabem? Aquela fase em que você não é aceito nem pra trabalho voluntário? Pois é, esse é o meu caso nesse momento.

Um tempinho atrás eu fui visitar Stanford, fui tomar um café com a professora de português de lá. Isso seria uma coisa bem legal, não fosse o fato de eu não ter sido selecionada para a vaga de leitor que eles tinham.

Stanford é um lugar lindo, o campus, meus Deus, é coisa de filme. Agora, imaginem a minha pessoa contemplando toda a beleza para a qual eu não estou qualificada. É triste! Todo "não" é triste, pensei até em chorar, mas depois desisti. Eu não podia chegar no café com cara de choro. E, também, não é o fim do mundo receber um não. Aliás, o fim do mundo é uma coisa que nunca é. Por pior que seja a situação, não será o fim do mundo. E isso é consolador, mesmo que não tenhamos a menor ideia de como seria o fim do mundo. Vai que no fim do mundo tudo é mais bonito, mais azul, mais colorido??! Hum? Enfim... isso não vem ao caso.

Eu tenho tentado aprender com os nãos que tenho recebido ultimamente e não apenas me frustrar. Eu gostaria de dizer que estou crescendo com esses "não", mas a verdade é que um não seco, sem justificativas, ensina pouca coisa. (No caso de Stanford, eles não contrataram

ninguém, é uma outra história).

Nunca me achei uma pessoa boa em termos profissionais (na vida até que me julgo uma pessoa boazinha, dessas que dá bom dia pra todo mundo, não belisca crianças, etc.), mas sempre achei que tivesse uma boa formação e isso me dava certa segurança. Tem sido interessante ver que o que eu julgava muito parece muito pouco em outros lugares, para outras pessoas, mas, enfim, não é o fim do mundo...




terça-feira, 24 de maio de 2011

You is a bitch e Os livro emprestado

Toda essa discussão sobre o livro didático "Para uma vida melhor" tem me deixado bem decepcionada. A educação no Brasil tem tantos problemas que eu fico realmente tocada quando um espaço enorme é dispensado na mídia para discussões sem fundamento. Nunca usei um livro no qual estivesse escrito que "os livro" pode ser uma construção aceitável dependendo do contexto, e isso não quer dizer que frequentei uma boa escola, ou que tive bons livros.

Toda minha educação escolar aconteceu em instituições públicas e, até hoje, tenho deficiências em todas as áreas do conhecimento, do português normativo à matemática. Nunca tive um professor de física nos 3 anos do Ensino Médio porque não havia um professor qualificado. Quantas e quantas vezes eu fiquei na rua esperando o meu ônibus porque fui dispensada às 9:30 e não às 12:00 por falta de professores.

Agora, sou soterrada por comentários, links, vídeos e não sei mais o que dizendo que o MEC, o PT, o falecido Bin Laden, querem destruir o português e enganar os alunos ensinando coisas erradas.

Posso dizer com conhecimento de causa, como linguista e como alguém que vivenciou durante 11 anos o que é uma escola pública, que estão todos enganados.

Estão enganados porque, se eu tenho dificuldades para escrever, ou se me faltam conhecimentos em muitos outros conteúdos básicos, não foi por culpa de nenhum livro que buscasse desfazer preconceitos. Foi por falta de investimentos do governo, por falta de professores formados, por falta de discussões pertinentes e, principalmente, porque os defensores da língua portuguesa normativa, os que ainda acreditam num complô do governo para manter a população ignorante nunca perderam todos esses minutos que vêm perdendo agora para reivindicar uma educação de qualidade para mim.

Outro dia, eu assisti ao filme "Precisous", um filme que conta a história de uma menina americana pobre, violentada pelos pais.Num dado momento, a mãe da menina diz: "You is a bitch, man". Eu fiquei chocada e confortada. Chocada com o filme, que é triste de doer, e confortada por rever que a linguagem coloquial existe em todos os lugares, em todas as línguas. Ela existe porque as pessoas não são iguais, porque as exigências de comunicação também não são.

A norma culta deve ser ensinada, ninguém defenderia o contrário. Mas é importante que pessoas letradas, super bem alfabetizadas e diferenciadas critiquem e reivindiquem mudanças que são realmente necessárias.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

A vida dos outros

A vida dos outros tem me interessado muito ultimamente. Hoje, eu passei pelo bairro Mission, um bairro de mexicanos. Muita gente sem fazer nada, muita gente muito pobre, muitos moradores de rua. E eu fiquei me perguntando... qual seria a história de cada uma daquelas pessoas e, principalmente, quão ruim precisa ser a vida em seu país para compensar ser mendigo no país dos outros.

Eu não sei qual foi a história que trouxe cada uma dessas pessoas até aqui, qual foi a história que eles estão vivendo agora. São tantos imigrantes, de tantas feições, todos têm a sua justificativa, a sua esperança.

San Francisco é uma cidade com muitos mendigos. Uma quantidade enorme de pessoas morando nas ruas, empurrando carrinhos de supermercado. Todos devem ter uma história pra contar...

sexta-feira, 4 de março de 2011

San Francisco







San Francisco é uma cidade lindíssima, com uma arquitetura toda especial, pessoas especiais na maneira de vestir, de comer, de protestar. Acredito que seja uma cidade muito particular nos EUA. Não conheço quase nada desse país, mas, do pouco que conheço, posso dizer que trata-se de um lugar particular.

Eu gosto de andar pra lá e pra cá, ver as pessoas vestidas de maneira tão diferente, com seus hábitos naturalistas, com suas filosofias de vida e seus carros enormes.

Eu gosto de tudo um pouco e me irrito com quase tudo.

A cidade, pra mim, cheira frango frito. Bom, preciso explicar, mas acho que sempre que eu sentir cheiro de frango frito, vou lembrar-me daqui.

Antes, o meu namorado morava no bairro Mission, um bairro de mexicanos, repleto de mendigos, e, segundo o medo americano, super perigoso. Na esquina da casa dele

tinha um restaurante de frango frito, cada vez que eu chegava, eu sentia aquele cheiro.

Depois, ele se mudou pra Divisadeiro, o bairro dos negros americanos, também, segundo o medo americano, perigoso. A verdade é que o bairro tem muitas casas populares e eles têm medo de pobres... mas eu ando muito e nunca tive nenhum problema. Enfim, a questão é que tem muitos restaurantes que vendem frango frito, ou seja, mesmo que todo mundo diga que caranguejo é a cara de San Francisco, pra mim, ela cheira frango frito.

Mas, justiça seja feita, a cidade é linda, com suas colinas, com os bondinhos, com os parques sempre cheios, com os pássaros marítimos que não te deixam esquecer que ali, logo depois daquela colina, há o Pacífico.

Da Sexta-feira de carnaval e dos amores com cara de domingo

A verdade sobre a sexta-feira de carnaval é que meu namorado saiu pra tomar cerveja com os amigos, e eu fiquei aqui, sozinha, fazendo nada. Esse pequeno episódio me fez amar carnaval mais do que tudo e sentir uma saudade inacreditável das épocas em que eu esperava muito pela chegada dele.
Tudo isso de nem lembrar que era carnaval e, de repente, sentir tanta falta dele me fez lembrar de uma história:
Durante uma época da minha vida, eu saia com um carinha muito gente boa. Aquele tipo de menino feito pra casar e, para piorar tudo, ele gostava muito de mim. Bom, toda essa descrição já prenuncia um relacionamento falido. Por mais que eu visse nele muitos atributos físicos e psicológicos, eu não conseguia parar de pensar na vida com cara de domingo à tarde que eu teria com ele. Pois é, convencida de que um dia eu encontraria o homem dos meus sonhos que me proporcionaria uma vida, no mínimo, de sábado à noite, terminei o relacionamento com esse bom moço.
Depois de muito tempo, estou eu aqui, numa sexta-feira de carnaval, à noite, sem fazer absolutamente nada, esperando o moço que eu escolhi...
É, é isso aí mulherada, quem muito escolhe....