sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Das cenas que não devíamos esquecer

Hoje eu recebi um e-mail sobre o blog de um amigo. Quando eu abri o post, descobri que ele estava em tratamento de saúde desde o ano passado. Seu blog é muito interessante. A sensibilidade com que ele descreve suas angústias e seus pensamentos é admirável. Uma pessoa super preocupada com as pessoas ao seu redor, em busca de auto-reconhecimento, de se auto-compreensão. Enfim, quem quiser dar uma olhadinha...
Quando li esse post, eu fiquei pensando em quando conheci o Renato, uns 8 ou 9 anos atrás. Esse exercício me trouxe uma lembrança engraçada e um pouquinho de tristeza por constatar que a gente esquece quase tudo.
Nessas alturas da vida, anos 2002 ou 2003, estava começando o Orkut. O Renato me contatou através do Orkut porque tínhamos o mesmo sobrenome. Conversa vai, conversa vem: "acho que somos primos". Como morávamos na mesma cidade combinamos de nos encontrar. Numa época em que não se falava em crimes virtuais, em pessoas que saíram para se encontrar com o amigo da internet e nunca mais voltaram, marcamos um encontro no Clube do Churrasco. Detalhe, o Clube do Churrasco ficava em frente a minha ex-casa. Por que negar informações a um estranho se você pode dar todas as que ele precisa?
Bom, lá fomos nós, eu e minha fiel companheira Ana Paula encontrar o Renato. Foi um encontro super legal, ele era um menino super divertido, branquelo, com seu cabelo Jackson Five e muito bonitinho, diga-se de passagem.
No final de semana que seguiu a esse encontro haveria uma festa privada open bar, organizada por um amigo do namorado de uma amiga que estava interessado em mim. O menino era "mauricinho" total, fazia FEA e, não tenho dúvidas, deve ter mil posts publicados no "Classe média sofre". Eu não tinha nenhum interesse nele, mas tinha muito interesse numa festa open bar! Dado isso, negociei a minha ida e a de mais duas pessoas, para que eu não ficasse deslocada, entendem? Liguei para o Renato que topou de primeira e disse que levaria um amigo. A festa era aquilo que prevíamos: muita bebida, muita gente chata reunida, todos super bem vestidos, o mais fino creme de la creme da FEA estava por lá. O dono da festa veio falar comigo, já meio altinho, eu sorri aliviada: pessoas bêbadas esquecem facilmente seus interesses, sabem? Eis que então chega o Renato com seu amigo. Seu? não, não, seus amigos, ele trouxe mais 3!!! Isso não seria nada, não fosse o fato de dois deles terem cabelos Jackson Five e um terceiro ter o cabelo cheio de "dreads". Nem chamavam atenção naquele ambiente padronizado... Não lembro se ficamos por ali ou se fomos beber em outro lugar. Só lembro que demos boas risadas.
Depois disso, acho que só vi o Renato mais uma vez e perdemos o contato. Hoje eu me lembrei dessa história, queria me lembrar de mais detalhes dessa e de tantas outras que vivi. Mas a vida é assim, a gente esquece para depois lembrar, às vezes a gente lembra tudo, às vezes a gente lembra só um pouquinho.

domingo, 21 de agosto de 2011

Que língua você fala bem?

Hoje eu fui assistir a uma palestra sobre bilinguismo aqui nos Estados Unidos. O IBEC, Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, vai oferecer cursos de português para crianças imigradas ou nascidas nos EUA que tenham o português como língua de herança. Um projeto muito interessante, muito bem organizado e, sobretudo, muito bonito. Nessa palestra havia muitos pais que afirmavam falar melhor inglês do que português porque viviam há 10, 15 anos nos EUA. A verdade é que todos eles, cada um com seu sotaque, com sua variante da língua portuguesa, falam português muito bem, mantém contato com a família e amigos no Brasil, com a comunidade brasileira aqui, etc. O que, então, os leva a pensar que não falam português tão bem quanto inglês?
O português da maioria daquelas pessoas na palestra é igual ao português falado pelos pais deles, pelas pessoas que eles conhecem que ficaram no Brasil. É difícil entender de onde vem o bloqueio dessas pessoas, por que elas acreditam que não sabem português o suficiente para falar com seus filhos. Que rejeição é essa com a língua materna? A maior parte dessas pessoas veio para os EUA adulto e tem orgulho de ser brasileiro. No entanto, rejeitam sua língua materna, uma língua que falam frequentemente. Eu não sou psicóloga, não estudei muito análise do discurso, mas imagino a tese interessantíssima que a análise do depoimento desses imigrados daria.
Quanto a mim, nem que eu fique 50 anos fora do Brasil, eu nunca falarei qualquer outra língua melhor que o português. A representação de tudo o que eu sou, de tudo que eu sinto passa pela língua portuguesa, pelo português caipira, sem concordância verbal ou nominal, com r retroflexo, com todas as palavras que eu preciso pra mostrar quem eu sou e o que eu penso.

"Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico. Minha pátria é a língua portuguesa." Fernando Pessoa