terça-feira, 2 de abril de 2013

Das maldades sem maldade

Hoje eu acordei e fui trabalhar - dar as minhas aulinhas - tranquila. Quando cheguei ao prédio do meu escritório, todas as portas estavam fechadas. Não estavam trancadas, mas estavam fechadas como nunca estiveram nos últimos 7 meses. Quando a primeira pessoa abre as portas, elas ficam abertas porque têm um sistema automático para isso. Nesse meio tempo de portas fechadas, fui fazer minhas cópias. Lá, na sala de xerox com a porta fechada, eu encontrei a professora de poesia alemã, uma jovem doutoranda vinda diretamente da Alemanha. Ela tinha um ar de doutoranda em poesia, um ar de doutoranda que eu, provavelmente, nunca tive. Ela tinha o ar, mas não tinha a habilidade necessária para destravar a copiadora. Abri a máquina, tirei os papéis que estavam enroscados e conversei com a doutoranda em poesia – tudo ao mesmo tempo, é ou não é muita habilidade na máquina de xerox? Ela me agradeceu enormemente por tê-la ajudado nessa tarefa tão árdua que é tirar cópias 10 minutos antes de sua aula começar. Ela tinha pressa, mas teve tempo de me fazer uma pergunta sem maldade: Ah, você tem um doutorado? Então esse emprego é um emprego de transição até que você encontre um emprego de verdade? Um emprego de transição, um emprego de verdade... essas definições de emprego ficaram na minha cabeça e a resposta não teve tempo de sair da minha boca porque a moça do alemão (rebaixei-a em minha descrição porque, afinal de contas, ela ainda não defendeu a tese, então, ela bem pode ser a moça do alemão e só) precisava dar suas aulas de poesia. Eu saí da sala de xerox, abri as portas que ficaram abertas e fui sentar a minha mesa pensando: um emprego de transição, um emprego de verdade... e as portas ficaram abertas, as físicas e as psicológicas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário