segunda-feira, 13 de maio de 2013

Não, obrigada! Como você reagiria se estivesse em perigo?

Sempre que uma mulher era violada, molestada, estuprada, eu pensava: “poxa, mas por que ela não fez isto, isso ou aquilo? Hoje, eu estava no trem voltando do trabalho, trabalhando no meu computador e conversando distraidamente com uma amiga no bate-papo do Facebook. A viagem não dura muito, 34 minutos, mas eu desço no ponto final, então, eu simplesmente esqueço da vida no trem. Logo depois que eu entrei no trem, que estava cheio de adolescentes voltando da escola, eu vi um rapaz sentando no banco do outro lado do corredor. Depois disso, eu estava muito concentrada na proposta de redação que eu estava fazendo e na minha conversa no bate-papo que não vi os adolescentes descerem, não vi meu vagão se esvaziar e não vi quando o moço sentou-se ao meu lado. Eu só o vi no último minuto e ele já estava sentado. Ele se sentou tão perto de mim, com a mão dentro de sua jaqueta que eu pensei que ele queria me assaltar. Eu pensei comigo, fica calma, responde calmamente e dá tudo o que ele pedir. Ele tinha os olhos muito esbugalhados e eu tinha medo de todas as histórias de pessoas que morreram sem nem mesmo reagir, então, eu comecei a responder às perguntas que ele fazia. Mas eu tremia muito, muito. De repente, ele parou de perguntar e ficou olhando parado pra mim. Eu, muito educadamente, disse: “May I help you? Do you have any problem?” com o telefone e o computador na mão, prontinha pra entregar pra ele e terminar com aquilo. Eu não gritei, eu não fui rude, eu fiquei imobilizada como um ratinho que espera a abocanhada da cobra. Ele, olhando com os olhos de cobra esbugalhada e chegando ainda mais perto, disse: “I like you, do you want to have sex with me now?” Vocês sabem o que eu fiz? Eu, com todos os isto, isso e aquilo? Eu olhei nos olhos esbugalhados de cobra e disse, calmamente: “no, thank you”. É gente, eu olhei pro moço pronto pra fazer não sei o que e disse: não, obrigada!!!! Quando eu me dei conta de que não era nem meu computador nem meu celular o que ele queria, eu comecei a me mexer, a tentar sair e ele perguntou se eu estava nervosa. Ele disse que só queria fazer sexo, ao que eu respondi novamente “não, obrigada”, mas dessa vez alto e seguido de um 'você está me assustando eu quero sair'. Ele se levantou, olhou pra mim e perguntou: “are you sure?”. Eu comecei a querer gritar e ele foi embora pois o trem já se aproximava do ponto final. Graças a Deus foi só um susto, só mais um louco entre tantos de São Francisco, nada de pior aconteceu. Eu encontrei uma mulher na ponta do vagão, contei o que tinha acontecido e ela desceu comigo, fomos falar com a segurança que não me deu a mínima, pegou minha descrição e não disse nada. E eu fiquei pensando: será que eu fiz alguma coisa?, por que ele me escolheu naquele trem? Pensei nas mulheres que se culpam, que não reagem, pensei no machismo do segurança que me perguntou: mas você tinha conversado com ele antes? E daí eu entendi que, em perigo, a gente não sabe o que fazer, a gente não reage como a gente pensa que reagiria. Somos mesmo ratinhas indefesas hipnotizadas pelas serpentes... só que, depois de libertas, carregamos o peso de uma sociedade machista, de uma insegurança de ter sido culpada por ser vítima...

3 comentários:

  1. infelizmente é isso mesmo...às vezes as coisas acontecem rápido demais e nem nos damos conta--quando entendemos a situação já é tarde. ainda bem que nada demais aconteceu contigo!!!

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  2. Meu Deus Fer estou chocado... terrível. O que eu posso dizer....que Deus te proteja e que você se proteja fique mais atenta. Se cuida

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  3. Obrigadam gente. Graças a Deus mesmo que não aconteceu nada demais e serve sempre como um alerta não é?
    beijos pra vocês

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