sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O interior é o mesmo



Eu passei as festas de fim de ano em Teloche. Uma vilinha a 200km de Paris com 3.040 habitantes. Tudo lá é muito bonitinho, a vilinha tem um centrinho medieval, com uma igreja, duas padarias, um açougue, uma farmácia, um correio e o mercadinho do Didier e da Michele. A D. Monique, minha sogra, vai de bicicleta comprar pão e croissant toda manhã. Come-se bem, bebe-se bem, como em todo bom interior. Tem uma coisa que eu adoro mais que tudo: o aperô. O aperô é assim: as pessoas te convidam pra ir a casa delas tomar um aperitivo antes do almoço ou do jantar, mas não te convidam pra almoçar ou jantar. Pode parecer estranho, mas é algo muito simpático e, como dá muito menos trabalho que convidar para comer, permite que as pessoas se vejam com mais freqüência, que bebam algo juntos, comam uns beliscos e depois cada um vai comer na sua casa. Eu adoro!
Interessante mesmo é ver que interior é o mesmo em qualquer lugar! Mesmo que eu não falasse francês, eu entenderia tudo. As pessoas, os comentários, as reações diante das coisas, tudo muito parecido com a minha realidade interiorana de São Paulo. Eu vejo as pessoas da minha família e meus conhecidos nas pessoas que eu conheço lá. Nas histórias sobre a vida dos outros, do burguês da vila, do pobre que tem uma filha metida, do que bebe mais do que deve, do filho que não sai da barra da saia da mãe, dos divorciados, dos juntados, de tudo um pouco. As pessoas sofrem pelos mortos em acidentes que eles nem conhecem e contam e recontam a mesma notícia ouvida 10 mil vezes no jornal.
É! O interior é o mesmo. As pessoas são gentis, elas gostam de nos fazer comer, quanto mais comemos mais felizes elas ficam. Se elogiamos a comida, ganhamos todo mundo. Eles me chamam "la princese". Eu sou muito dada, vocês sabem, e como tudo que me dão. Na verdade, fico sentadinha esperando que as pessoas me sirvam :), princesa, não? eu disse isso uma vez, eles acharam graça, e eu virei a princesa do pedaço. Porque, em todo bom interior, as pessoas gostam mesmo é de rir e de tirar sarro de tudo.
As pessoas sabem meu nome, eu saio dando 4 beijinhos em todo mundo (é, lá eles dão 4 beijinhos), elas me perguntam sobre a minha vida. Eu conheço as pessoas pelo nome, sei da vida delas... Ah! la vie a la campagne.
No meu interior, as pessoas dão 3 beijinhos (pra quem quer casar) ou 2 beijinhos (pra quem já casou ou não faz questão de casar) e elas nos enfiam café até não querer mais. Em Teloche, as pessoas dão 4 beijinhos e nos enfiam vinho, licores, kirs até não querer mais. Enfim, a diferença, na verdade, está no café, no álcool e na quantidade de beijos...

Um comentário:

  1. Nossa, inconcebível não perguntar se a pessoa não quer ficar pra almoçar! NO mais, somos universais!

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